Qual é o melhor investimento?
Olá pessoal!
Um dos leitores do Rico Dinheiro me fez a seguinte pergunta: “Qual é a melhor aplicação para o pequeno investidor? CDB ou poupança? Título do tesouro direto? Fundos? Etc.”.
Os objetivos deste Post são:
- Refletir sobre o que considerar antes de investir seu dinheiro;
- Simular a aplicação de R$ 1.000,00 em quatro tipos simples de investimentos: Poupança, CDB, Fundos DI e Títulos Públicos via Tesouro Direto;
- Demonstrar o impacto da inflação, taxas e tributos e a importância de considerá-los quando for escolher a aplicação.
Não é objetivo deste Post explicar os mecanismos de funcionamento dos investimentos selecionados. Faremos isso ao iniciarmos a série Investimentos Inteligentes. Aguardem!
AVISO LEGAL: O FATO DE CITARMOS E FAZERMOS SIMULAÇÕES DE RENDIMENTO EM APLICAÇÕES NESTE TEXTO, EM HIPÓTESE ALGUMA SIGNIFICA RECOMENDAÇÃO DE INVESTIMENTO. AS CITAÇÕES E SIMULAÇÕES SÃO MERAMENTE ILUSTRATIVAS E DESTINADAS AO APRENDIZADO. QUALQUER DECISÃO DE APLICAR EM UMA DAS MODALIDADES É DE RESPONSABILIDADE ÚNICA E EXCLUSIVA DE QUEM ASSIM O FIZER.
A Melhor Aplicação
Quem dera pudesse ser dada uma resposta simples e direta: A melhor é a aplicação XXXX. Contudo, as variáveis envolvidas na escolha de uma aplicação são tantas que não há uma resposta definitiva e simples. Muitas perguntas devem ser feitas a si mesmo antes de decidir em que investir:
- Qual é o meu nível de tolerância ao risco?
- Qual é o meu horizonte de tempo para manter o dinheiro aplicado?
- Esse recurso está sendo economizado com algum objetivo específico?
- Tenho alguma reserva a qual possa recorrer em caso de emergência?
- Tenho uma estratégia bem definida? Sei qual é o meu STOP LOSS?
- Conheço o funcionamento e entendo os riscos da aplicação?
As perguntas acima são só alguns exemplos. Muitas outras podem e DEVEM ser formuladas antes de decidir aplicar seu dinheiro. Mas quero destacar a que acho mais importante de todas: Conheço o funcionamento e entendo os riscos da aplicação? Se a resposta para a pergunta for não, CAIA FORA! Não embarque em algo que não saiba como funciona porque quem está oferecendo provavelmente sabe muito bem.
Existe um ditado no pôquer que é mais ou menos assim: Se após 30 minutos de jogo você ainda não conseguiu descobrir quem é o pato entre os jogadores tenha certeza que o pato é você!
Veja bem: Deixar de investir no que não conhece não significa que deve ignorar estas formas de investimento. Pelo contrário! Significa que antes de investir você deve estudar os mecanismos de funcionamento e entender os riscos.
Conheça o sujeito que ficou rico aplicando na poupança
A despeito da mudança na regra de rendimento da poupança (Desde maio/2012 sempre que a meta SELIC for igual ou inferior a 8,5% ao ano o rendimento da poupança será 70% desse valor) os brasileiros estão aumentando o volume de recursos nessa modalidade de investimento. Só pode haver duas razões para isso: falta de educação financeira e comodismo.
Falta de educação financeira porque se soubesse fazer contas com taxas de juro e projeções financeiras reduziria significativamente os recursos aplicados na poupança. Para ficar apenas em um exemplo, se a meta SELIC se mantiver no patamar de 7,25% durante todo o ano o rendimento da poupança será 5,08% ao ano enquanto se a inflação de 2013 medida pelo IPCA (indicador oficial do Governo Federal) for igual a de 2012 (5,84% ao ano) significará que o poupador teve um rendimento REAL NEGATIVO de 0,76%. Ou seja, PERDEU PODER DE COMPRA!
Comodismo porque quando atingimos um determinado nível de conforto tendemos a deixar de avaliar novas possibilidades porque são trabalhosas e nos tirarão da zona de conforto. “Entender como funciona o CDB, Fundos DI e Títulos Público dá trabalho. Então, deixa o dinheirinho na poupança mesmo. Estresso-me menos”.
Legal! Aí vem o mote do subtítulo: Você conhece alguém que ficou rico aplicando na poupança? Eu não! Se conhecer, me apresente. Este é um verdadeiro herói e deve ter muito a ensinar. Mas se não conhecer, pense: Por que será que não há ninguém?
Simples: PORQUE POUPANÇA NÃO É INVESTIMENTO!
Claro, há algumas pequenininhas vantagenzinhas em aplicar na poupança. Mas, exceto por ser uma aplicação de fácil entendimento e estimular o hábito de poupar, acredite, não é lá que está o dinheiro de quem tem muito dinheiro.
Toda essa argumentação foi apenas para alertar que é preciso educar-se e aprender a respeito de outras modalidades de investimento se quiser, de fato, fazer seu dinheiro trabalhar para você.
Simulando uma aplicação de R$ 1.000,00
Cada investimento possui mecanismos de funcionamento, objetivos e taxas bem específicos. Um dos maiores erros do investidor iniciante é não buscar entender essas variáveis. Como o objetivo deste Post não é esclarecer o funcionamento destes investimentos partiremos direto para as simulações.
Para fazer a simulação consideraremos a aplicação do valor único de R$ 1 mil, realizado no dia 02/01/2012 em cada uma das modalidades de aplicação escolhidas e mantendo esse valor aplicado por 12 meses.
Em relação a Poupança não tem mistério, o capital é sempre acrescido do juro na data de aniversário. Não importa a instituição financeira, o resultado é sempre o mesmo. Quanto aos CDB e Fundo DI há incontável variação de opções. Assim, por ser um dos bancos mais popular de grande acessibilidade ao público em geral, escolheremos dois produtos do Banco do Brasil: BB CDB DI e o fundo BB Referenciado DI 500. O primeiro foi escolhido por ser um CDB pós fixado, atrelado a um % da CDI. O segundo porque em função do valor da aplicação é o fundo DI do BB que apresenta menor taxa de administração para o valor que utilizaremos na simulação.
Também são várias as opções de investimento em Títulos Públicos. Para essa simulação utilizaremos o título LFT 070317 por ser pós fixado indexado à Taxa SELIC.
Para quem não tem ainda muito traquejo com os termos acima e está achando muito complicado não se preocupe. Apenas tenha em mente que não dá para afirmar que todo CDB, todo Fundo DI e todo Título Público é a mesma coisa. Assim, precisamos definir muito bem qual é o produto que estamos avaliando.
O gráfico a seguir mostra o valor bruto que o investidor teria em cada aplicação ao final do período de 12 meses. Plotamos também o valor corrigido pelo IPCA para que tenha ideia do ganho real, mais importante que o nominal.
A inflação no período medida pelo IPCA foi de 5,84%. A maior rentabilidade bruta foi da aplicação em LFT (Nominal: 8,33%; Real: 2,35%) e a pior do BB Referenciado DI 500 (Nominal: 6,20%; Real: 0,34%). Mas não é só a inflação que reduz a rentabilidade. Não podemos esquecer das taxas e tributos que incidem em cada modalidade de aplicação. O gráfico a seguir é uma cópia do anterior só que apresentando a rentabilidade líquida, ou seja, já descontadas as taxas e tributos:
Perceba que a ordem das aplicações mais rentáveis mudou:
A poupança, que antes estava na terceira colocação com rentabilidade nominal de 6,47% (rentabilidade real de 0,60%), passou para a primeira posição, mantendo a rentabilidade por ser isenta de taxas e tributos.
O título LFT caiu para a segunda posição reduzindo sua rentabilidade, agora líquida, para 6,36% (rentabilidade real de 0,50%). Ou seja, as taxas e tributos consumiram 1,97 pontos percentuais da rentabilidade bruta. Um valor nada insignificante.
Em pior situação ficaram as aplicações BB CDB DI e BB Referenciado DI 500 que apresentaram rentabilidade real líquida menor que a inflação, ou seja, fez o aplicador perder poder de compra.
Agora, vamos analisar a evolução do saldo das aplicações mês a mês:
São dois os pontos que gostaria de chamar atenção em relação ao gráfico acima.
1) Esquecer de considerar custos e tributos envolvidos em uma operação pode iludir o investidor. Perceba como a curva das aplicações LFT e CDB estavam, historicamente, acima da curva da poupança. Apenas no mês do saque*, momento da cobrança dos custos e tributos envolvidos nas operações, é que o efeito é sentido tendo como resultado um rendimento pior que se tivesse mantido os recursos na poupança;
2) Observe como a curva da aplicação BB Referenciado DI 500 inicia acima da poupança e a partir de setembro/2012 a situação se inverte. Isso ocorre porque esse tipo de aplicação aloca seus recursos quase que exclusivamente em títulos públicos. Com a queda da Meta SELIC a rentabilidade cai consideravelmente, especialmente em função da elevada Taxa de Administração cobrada (2% ao ano).
Mas vamos avançar um pouco mais. Vamos imaginar que o aplicador permita que os recursos fiquem mais um mês aplicado (pela ausência de valor real, vamos adotar como premissa que a rentabilidade das aplicações sejam idênticas a do últimos mês e que a inflação seja a média aritmética dos 12 meses do histórico). Veja no gráfico abaixo o resultado líquido:
O título LFT volta a ser o mais rentável. Isso ocorre porque a alíquota de Imposto de Renda (a poupança é isenta de IR) incidente em aplicações de renda fixa é regressiva, se reduz com o passar o tempo. Nos exemplos citados, ao manter o valor aplicado por mais de 365 dias o aplicador sai de uma alíquota de IR de 20% para 17,5%. Isso significa que ele ganha 2,5 pontos percentuais em sua rentabilidade, o que não é desprezível.
A menor alíquota do IR para aplicações de Renda Fixa é 15% para aplicações de duração superior a 2 anos. Para perceber melhor o impacto disso, vamos simular que, agora, o investidor tenha mantido os recursos aplicados por 2 anos e 1 mês (continua valendo a premissa de utilizar a última rentabilidade real que temos). O resultado é o seguinte:
A diferença de ganho entre a LFT e a Poupança se amplia e as aplicações em BB CDB DI e BB Referenciado DI 500 continuam perdendo para a inflação. Isso significa dizer que o ganho em títulos públicos, a longo prazo, é sempre o maior e nunca vale a pena aplicar em CDB nem em Fundo DI? A resposta é NÃO!
O rendimento de aplicações em CDB pós fixado, por exemplo, geralmente é expresso em percentual da CDI. E esse percentual varia de acordo com o prazo da aplicação, o valor total aplicado e de banco para banco. O BB CDB DI utilizado nas simulações é oferecido pelo Banco do Brasil com uma rentabilidade de 83,5% da CDI. Há bancos que oferecem produtos similares com uma rentabilidade de 110% da CDI. Se fosse esse o caso, o valor resgatado após 25 meses seria R$ 1.151,38, superando a rentabilidade do título LFT. Contudo, o risco seria superior por ser um produto de um banco de menor porte.
Já quando falamos de Fundos de Investimentos, é importantíssimo saber o percentual cobrado a título de Taxa de Administração. O péssimo desempenho do fundo BB Referenciado DI 500 pode ser atribuído ao fato de possuir uma Taxa de Administração elevadíssima (2% ao ano) para o patamar atual da Meta SELIC (7,25% ao ano). Para ter uma ideia, o próprio Banco do Brasil cobra uma Taxa de Administração de 0,25% ao ano para aplicações no BB Referenciado DI Private LP. Contudo, enquanto o primeiro exige valor mínimo para aplicação de R$ 500,00, o segundo exige R$ 25 mil.
E então?
Como já afirmado, considerando a complexidade e a quantidade de variáveis envolvidas (e ainda ficaram outras de fora, a exemplo do risco) seria, no mínimo, um equívoco eleger uma determinada aplicação como a melhor.
Contudo, é possível afirmar qual é a pior: a recomendada pelo gerente do seu banco. Entenda, de uma vez por todas, que o gerente do seu banco não é seu amigo (apesar de querer fazer você acreditar que é). Ele trabalha para o banco, não para você. Portanto, ele recomendará aquela aplicação que:
- Foi orientado a recomendar;
- Permitirá com que ele atinja suas metas;
- Proporcionará um maior retorno para ele (comissões, premiações, etc.) e para o banco (lucro);
- Seja mais conservadora para que o cliente não se assuste e procure outro banco.
Mas, se realmente tivermos escolher um investimento como o melhor, fico com a Educação Financeira. Quem tem educação financeira saberá avaliar as possibilidades e riscos de cada operação e adequar o seu portfólio de investimento a sua necessidade. Assim, poderá assumir riscos controlados e maximizar seus retornos.
Um grande abraço e até a próxima!
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* A bem da verdade, a forma de cálculo da LFT é um pouco diferente. Contudo, para este Post, estamos simplificando um pouco para melhor entendimento e pelo fato de que a diferença de valores é desprezível.
Caro Kléber, li e recomendei o texto. Como sempre de uma clareza solar. Obrigado. Abraço. Kívio Dias
ResponderExcluirValeu Kívio. O objetivo é dismistificar o que está por trás de investimentos. Algo que todos deveriam se preocupar.
ExcluirRecomende o blog e se quiser ver algum tema abordado é só falar.
Kleber,
ResponderExcluirEstou inciando minha Educação Financeira. Esse foi o melhor texto que li até o momento.
Linguagem acessível e muito didático. Valeu.
Valeu amigo(a).
ExcluirObrigado pelo comentário. Significa que estamos no caminho certo!
Curta e compartilhe educação financeira!
As pessoas buscam sempre o investimento da moda, a empresa que mais está crescendo, e vivem trocando de investimentos constantemente. Esse giro de patrimônio é extremamente maléfico e destrói as chances de sucesso do investidor.
ResponderExcluirIndependente da modalidade de investimento, o que deixa a pessoa rica é o acúmulo de patrimônio (e não o giro do mesmo... Não ficar trocando constantemente). Haverá pessoas que se sairão melhores com imóveis e outras na renda variável e isso é questão de perfil, como você mencionou em seu artigo.
Sucesso!
Value Investing
http://valueinvesting.blog.br
Carlos,
ExcluirÉ isso aí. O mais importante é:
1) Não gastar mais do que ganha;
2) Formar um patrimônio de receita passiva;
Nas palavas de Buffet:
1) "Nunca dependa de uma única renda. Faça investimentos para criar uma segunda fonte"
2) "Se você comprar coisas que não precisa, logo terá que vender coisas que precisa"
3) "Não economize o que resta dos seus gastos, mas gaste o que sobra de suas economias"